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Goioerê

01/03/2017

Antes de Goioerê, o Vale do Piquiri

Antes de Goioerê, o Vale do Piquiri

No último sábado, 25, um dos pioneiros mais antigos da região completou 92 anos. Antônio Landim da Cruz - Antônio Cearense - faz parte da história dos municípios de Goioerê, Quarto Centenário e Rancho Alegre D’oeste.

Para entender um pouco dessa história, vamos voltar ao ano de 1951 e então, compreender melhor como tudo começou. Uma história contada por alguém que viu serem derrubadas às matas virgens, abertas as primeiras estradas, construídas as primeiras casas.

Uma historia contada por alguém que viveu intensamente cada momento que marcaram a colonização da região. O Vale do Piquiri foium lugar repleto de pessoas importantes que ajudaram a construir essa história, mas passados mais de 60 anos, talvez poucas pessoas possam contar isso desde o começo.

Não se sabe informarao certo se existem outras pessoas que chegaram aqui em 1951 e ainda estão vivas para contar essa história. Antônio Cearense, personagem principal dessa história, não soube informar sobre isso. O que ele disse,foi que,tem muitas histórias sobre colonização do Vale do Piquiri, como era conhecido à região entre Campo Mourão e Cascavel, que hoje se encontra Goioerê, Rancho Alegre D’Oeste, Quarto Centenário e Jaracatiá, este último, mais antigo que o próprio Goioerê, segundo ele.

Descendente do Capitão José Paes Landim e Geralda Rabelo Duarte, desbravadores portugueses, que chegaram à região do Cariri, sul do Ceará em 1731, conforme revela o livro de Vicente Macedo de Landim. Antônio Landim da Cruz faz parte de uma família que está no Brasil há quase 300 anos.

Muitas sãos as histórias contadas por ele sobre o nordeste, desde o tempo em que Lampião e Maria Bonita faziam acampamento na fazenda de seu avô, e até mesmo das disputas políticas pelo poder na cidade de Aurora, onde até hoje, desde 1883 quando emancipou, praticamente, as mesma famílias se alternam no poder, entre elas, os Macedos, Landim, Leite e os Cruz, nem sempre as disputas foram amigáveis, relata ele, principalmente, no final do século 18, onde houve confronto familiar – história registrada no livro Marica Macedo ‘A brava sertaneja do nordeste’, onde registra o episódio ‘Fogo na Taverna’, datado de 1909que fala sobre a tomada da cidade diante de praticamente uma guerra civil.

O município de Aurora, segundo alguns relatos, foi fundado em 1817 também pelos Leite, pertencente ao mesmo clã familiar. O padre Antônio Leite construiu um oratório, dando início assim, a um novo povoado.

Em 1945, Antônio Landim da Cruz com 20 anos, saiu de Aurora, no sul do Ceará, para a capital paulista onde serviu o exército, depois, rumou para Presidente Prudente onde tinha uma irmã, ficandonaquela região até 1951.

Quando estava disposto conhecer novas terras, regiões que ainda estavam sendo desbravadas, Antônio Cearense,como já era conhecido, decidiu ir para o Paraná em busca de fazer a vida.

A chegada e os primeiros habitantes– Seu Antônio veio então direto para Campo Mourão, hospedou-se no hotel Avenida e depois de uma semana conhecendo a região, decidiu então, ir para o Vale do Piquiri.

Contratado por fazendeiros da capital do estado, ele chegou onde é hoje Goioerê, e juntamente com um agrimensor, tiveram a missão de fazer a divisão das glebas 14 e 15.

Seu Antônio Cearense disse que não havia nada, apenas uma estrada dividindo duas fazendas, a fazenda Cruzeiro e a Scarpari, essa estrada seria hoje, onde se encontra a Avenida 19 de agosto.

Seu Antônio fala sobre a derrubada da mata virgem, as primeiras plantações, o ciclo da hortelã, do café e do algodão. “Após a derrubada, começamos as primeiras lavouras, plantávamos milho, feijão e arroz e também criávamos porcos, tudo isso, para nossa subsistência, mais tarde veio o ciclo da madeira, pois no começo a madeira ficava abandonada, pois não havia caminhões suficientes para extrair toda a madeira. A primeira lavoura que cultivamos em grande escala foi a hortelã, mas durou apenas alguns anos, depois o preço despencou e tivemos que começar o ciclo da cultura do café, que quase foi abandonada devido a geada de 1955 que praticamente devastou tudo”, disse seu Antônio,

Somente no começo dos anos 60, o algodão começou a ser cultivado, trazendo assim, milhares de pessoas em busca do “ouro branco” como era conhecida a nova cultura.

“Aqui era novidade, mas no nordeste já plantávamos algodão, e isso que fez que vários imigrantes nordestinos também procurassem esse lugar, por isso, a região tem uma influencia nordestina muito forte”, explicou.  “Na década de 70, Goioerê era igual a um formigueiro, chegava gente a toda hora, e a população passava tranquilamente dos 100 mil habitantes”, pontuou.

A perda do melhor amigo – Ainda na década de 50, Cearense sofreu uma grande perca, a morte de seu melhor amigo, que o ajudou quando chegou a Goioerê, segundo ele, ‘José Hominho Paraguai’ era um agrimensor natural do país vizinho, e em um desentendimento com outra pessoa foi morta a tiros em uma emboscada. “Mataram ele a troco de nada, ele foi resolver uma demanda entre duas pessoas, e como ele também tinha a fama de muito bravo, assustaram com a chegada dele na venda e uma pessoa que estava escondida entre o telhado e o madeiramento, atirou covardemente duas vezes com uma carabina e o matou na hora”, falou o pioneiro.

O primeiro enterro – A tristeza de seu Antônio prosseguiu ainda com o enterro do amigo, na época, o cemitério de Goioerê ainda estava sendo preparado e ainda não podia receber ninguém. “Queriam enterrar meu amigo em qualquer lugar, eu disse que ele não era qualquer um, ele foi meu primeiro amigo, a pessoa que me ajudou quando cheguei aqui”, disse seu Antônio, referindo-se a “José Hominho Paraguai”, que tinha esse nome por ser paraguaio. “Ele falava meio enrolado, mas eu entendia tudo, junto com ele, abrimos as primeiras clareiras na mata virgem e fizemos as primeiras divisões de terras, ele era um exímio agrimensor e gente muito boa”, disse Landim.

“Eu sei que foi contra a vontade de alguns, mas eu o enterrei lá, foi o primeiro ser enterrado”, lembra emocionado.

As viagens -A vida era difícil, ir até Campo Mourão em um carroção de rodas de ferro não era uma missão tão fácil. “Um dia para ir, outro para fazer compras e outro para voltar, mas isso somente quando o rio estava baixo, porque ainda não haviam pontes”, relata ele.

A colonização e os confrontos –Cearense também explica que, como toda colonização, foram inevitáveis os confrontos contra aqueles que queriam a terra a qualquer custo. “Sofri algumas emboscadas, tudo isso, na luta pela terra, mas eu precisava defender o direito de quem tinha a escritura”, referindo-se aos seus patrões da capital do estado e também do norte pioneiro.

“Não foi fácil, mas eu nunca recuei e a colonização seguiu, porque era assim que tinha que ser”, diz emocionado, lembrando-se de um confronto que aconteceu onde está localizada hoje a Fazenda São Vicente e a fazenda Ararajuba na Placa Amaro Pedro, onde ele morou de 51 a 58.

“Foram aproximadamente 30 minutos de um tiroteio intenso, onde nosso grupo com aproximadamente 10 homens encarououtro grupo, também com aproximadamente 10 a 15 homens, a luta foi difícil, mas eles recuaram”, diz ele. “Houve vários feridos, tanto de um lado quanto de outro, eu mesmo levei um tiro que acertou a aba do meu chapéu”, lembrou.

“Algumas pessoas que integravam o bando invasor fugiram, então, não sabemos afirmar se chegou alguém morrer”, explicou.

A encomenda –A fama de bravo começou a se estender e ninguém queria mais vir participar de demandas de terras com o seu Antônio Cearense, que aquelas alturas, já era inspetor de quarteirão e respeitado por muitos. “Quando tinha um problema muito sério para resolver e não tinha como chamar o delegado quem resolvia era eu”, afirmou.

Mas seu Antônio com seu jeito explosivo de ser colecionou alguns “inimigos” e teve sua morte encomendada. Mas para sorte dele, o pistoleiro encomendado por fazendeiros rivais, veio até Campo Mourão, mas depois de uma visita a uma casa de prostituição, se envolveu em uma briga e acabou morrendo por lá mesmo. “Só depois de uma semana me falaram que ele veio para me matar, eu não sabia de nada, mas também não sei se seria tão fácil assim pra ele”, relembrou.

Fatos importantes – Cearense participou praticamente de todos os fatos importantes que aconteceram na região no começo da história, ele se lembra das pessoas que foram mortas e enterradas nas “Três cruzinhas”, próximo a Quarto Centenário, lembra também da perseguição a uma onça que rondava a região e foi morta próxima a Rancho Alegre D’Oeste, exatamente onde hoje é Rio Tigre, por isso o nome Água do Tigre. “Encurralaram a onça, mas que no caso, era um tigre, e mataram a tiros e foiçadas”, disse.

A geada de 1975 que durou três dias e praticamente erradicou o cafezal que havia na região. “A geada foi tão forte que chegou a matar uma pessoa que frequentava minha venda, ele morreu de frio, o nome de era Rubens e fazia serviço para um e para outro, e acabou morrendo em um cafezal na estrada Amaro Pedro”, disse.

Antônio Landim da Cruz acaba de completar 92 anos, goza de plena consciência e está muito bem de saúde, ele só lamenta a morte da esposa que faleceu em 2011, (Rosa Machado da Cruz) depois de 48 anos juntos.

 Morando no mesmo lugar de 1958, ele lamenta também que, infelizmente, seus melhores e mais antigos amigos já se foram.

Hoje, uma das coisas que ele mais gosta é receber visitas para que possa contar suas histórias. Pai de seis filhos, agora aproveita para curtir netos e bisnetos.

Fonte: GOIOERÊ | CIDADE PORTAL

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